sábado, 23 de fevereiro de 2013

um pouco de psicologia social comunitária



PARTE 1

Texto: CAMPOS, R.H.F. (Org.). Psicologia Social Comunitária: Da solidariedade à autonomia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

Objeto: Histórico e fundamentos da psicologia comunitária no Brasil.

Objetivos: Apresentar as bases históricas e epistemológicas da psicologia comunitária no país.


Principais conceitos:

Psicologia comunitária: “referindo-se a atuação de profissionais junto a populações carentes, porém a maioria dos trabalhos dessa época tinham um forte cunho assistencial e manipulativo, utilizando técnicas e procedimentos sem a necessária analise critica – a intenção era boa, porem não os resultados obtidos.” (p.18)
Psicodrama-pedagógico: “é colocado como objetivo a educação popular, auxiliando o grupo a perceber a sua própria realidade, e a sua própria cultura.” (p.21)
Centros sociais: “deram origem aos atuais centros comunitários. Esses contavam com o apoio da igreja católica, de assistentes sociais e órgãos governamentais, criando equipes itinerantes interdisciplinares (médicos, agrônomos, assistentes sociais e outros) que procuravam organizar grupos locais que dessem continuidade aos trabalhos propostos – basicamente educativos. Porém em pouco tempo se desfaziam.” (p.26)
Consciência e atividade:categorias fundamentais do psiquismo humano, que sistematizam muito do que se sabe sobre comportamento, aprendizagem e cognição.” (p.31)
Identidade: “categoria que leva ao conhecimento da singularidade do individuo que se exprime em termos afetivos, motivacionais, através das relações com os outros – ou seja, na vida grupal.” (p.31)
Relações grupais: “vinculo essencial entre o individuo e a sociedade.” (p.31)


Principais conclusões:

“Assim vamos encontrar, sob o rotulo de psicologia social comunitária, uma pratica voltada a: a) prevenção de saúde mental, unindo psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais e b) educação popular com a participação de pedagogos, psicólogos, sociólogos e assistentes sociais.” (p.19)
“Nesse sentido, o que identifica qualquer profissional ligado realmente aos movimentos populares é o seu papel de educador popular, embora ele possa dar uma contribuição maior na área de conhecimento que ele se formou.” (p.21)
“enquanto psicólogos, devem lidar com a dinâmica de grupos, de encontros, com questões metodológicas de avaliação, também devem lidar com as tensões e problemas de relacionamento, porem sem fazer recorte – todos se identificam como educadores populares.” (p.21)
“a atuação do psicólogo deve dar-se no sentido de que a resolução das situações de crises individuais resulte na superação das contradições sociais que geraram através de um processo de conscientização.” (p.22)
“a existência de uma relação estreita entre saúde e condições de vida, cabendo aos psicólogos atuar no sentido de que as condições e modos de vida precisam ser dominados para que haja autonomia de sujeito para exercer a sua saúde.” (p.24)
“o psicólogo esbarra nos limites teóricos e técnicos de sua formação na universidade, que não lhe permite responder as demandas de atendimento psicossocialmente colocadas pelas populações que freqüentam estes postos de saúde.” (p.24)
“um avanço na definição do que seja uma atuação do psicólogo em comunidades, cabendo a ele desenvolver grupos que se tornem conscientes e aptos a exercer um autocontrole de situações de vida através de atividade cooperativas e organizadas.” (p.25)
“Em suma, este estudo, mostra com clareza a existência de trabalhos comunitários que, por sua origem paternalista e objetivos assistenciais, levam a manutenção de consciências fragmentadas pelo idealismo e individualismo, e, de fato, impedindo qualquer avanço tanto na ação como na consciência.” (p.28)
“As diversas experiências comunitárias vem apontando para a importância do grupo como condição, por um lado, para o conhecimento da realidade comum, para a auto-reflexão e, por outro, para a ação conjunta e organizada.” (p.30)
“o psicólogo na comunidade trabalha fundamentalmente com a linguagem e representações, com relações grupais – vinculo essencial entre o individuo e a sociedade – e com as emoções e afetos próprios da subjetividade, para exercer sua ação em nível da consciência, da atividade e da identidade dos indivíduos que irão algum dia, viver em verdadeira comunidade.” (p.31)
“Fazer psicologia comunitária é estudar as condições (internas e externas) ao homem que o impedem de ser sujeito e as condições que o fazem sujeito numa comunidade, ao mesmo tempo em que, no ato de compreender, trabalhar com esse homem a partir dessas condições, na construção de sua personalidade, de sua individualidade critica, da consciência de si (identidade) e de uma nova realidade social” (p.32)
“É no contexto grupal que nos identificamos com o outro e é nele também que nos diferenciamos deste, e assim construímos a nossa identidade, sendo o grupo condição para a sua manutenção ou metamorfose.” (p.32)

Comentário pessoal:  As práticas apresentadas, no capítulo demonstram a forma como o psicólogo foi atuando e modificando suas teorias e técnicas ao longo do tempo, mostrando que seu trabalho tem que ser em conjunto com a comunidade, sem se colocar em posição de superioridade, sem impor sua ciência, fazendo que os integrantes da comunidade pensem por si próprios, resolver seus próprios conflitos, superar o individualismo egoísta e desenvolver um pensamento crítico no sujeito, uma consciência de si, uma identidade, resgatar a subjetividade e ter consciência das relações de poder existentes na vida social, ao mesmo tempo em que ajuda a comunidade a se organizar e trabalhar em cooperação. E para isso é necessário atuar de forma educativa em conjunto com sociólogos, pedagogos entre outros profissionais.


Palavras-chave:  Consciência, Identidade, Autonomia


PARTE 2

Objeto: A psicologia na comunidade, a psicologia da comunidade e a psicologia (social) comunitária

Objetivos: Apresentar a diferença entre psicologia na comunidade, da comunidade e psicologia comunitária e suas práticas entre as décadas de 60 a90, no Brasil.

Principais conceitos:

Trabalhos em comunidade:Eram trabalhos comunitários que atendiam aos interesses das elites econômicas do país, cujos profissionais em sua maioria provenientes das ciências humanas e sociais, ocupavam nesses projetos funções estratégicas destinas a prestação de serviços básicos a população.” (p.57)

Psicologia na comunidade: “surgiu e recebeu essa identificação de na comunidade, numa época em que isso era fundamental: eram momentos em que psicologia vivia, fortemente, uma crise em relação aos modelos importados e alheios a realidade brasileira e, dessa forma, assumia a proposta de se deselitizar e de se tomar mais ligada as condições de vida da população.” (p.72)

Psicologia da comunidade: “passou a se referir as praticas ligadas as questões da saúde, ao movimento de saúde, e que envolviam atividades que se realizam através da mediação de algum órgão prestador de serviços, que se constituía na instituição na qual o psicólogo trabalhava.” (p.73)

Psicologia (social) comunitária: “utiliza-se do enquadre teórico da psicologia social, privilegiando o trabalho com os grupos, colaborando para a formação da consciência crítica e para a construção de uma identidade social e individual orientadas por preceitos eticamente humanos.” (p.73)

Principais conclusões:

“vários trabalhos junto aos setores mais desfavorecidos da população, quase todos com fortes elementos assistencialistas e paternalistas.” (p.57)
“Historicamente, desde a sua criação como profissão no Brasil, a psicologia tem passado por vários tipos de pratica. Tradicionalmente nos consultórios, nas organizações e nos ambientes educacionais. Assim era, em especial, na década de 60.” (p.60)
“O psicólogo trabalhava de uma maneira voluntaria, não remunerada e firmemente convicto do seu papel político e social junto a esses setores da população. Os referenciais teóricos e metodológicos da sociologia, da antropologia, da historia, da educação popular e do serviço social tornaram-se conhecidos pelos psicólogos, que passaram a empregá-los com certa prioridade, nos trabalhos que desenvolviam nas comunidades.” (p.62)
“A preocupação fundamental era o desenvolvimento de atividades e tarefas que permitissem colocar a psicologia a serviço dessas populações, e ao mesmo tempo, em alguma dessas praticas, havia o compromisso de colaborar para que as pessoas se organizassem e reinvidicassem por suas necessidades básicas e melhorias das suas condições de vida. Tentava-se descaracterizar a psicologia como uma profissão elitista e que havia feito alianças com a burguesia.” (p.62)
“tal envolvimento e identificação com a vida e a situação dos desfavorecidos tornaram-se possíveis, somente pelo dato da população estar vivendo condições concretas, extremamente difíceis, que produziam tal repercussão que tornaram esses intelectuais mais sensíveis as problemáticas presentes nesses segmentos sociais.” (p.64)
“as atividades desenvolvidas apresentavam varias características, desde a promoção de reunião e discussões em torno das necessidades vividas pela população, passando por levantamentos e descrições das condições de vida e das deficiências educacionais, culturais e de saúde da população, assim como por oferecer algum tipo de assistência psicológica gratuita, até a participação conjunta em passeatas, mobilizações e abaixo-assinados, dirigidos as autoridades como uma forma de protesto contra as precárias condições de existência e como uma maneira de reinvidicar os serviços básicos.” (p.65)
“Para se contribuir com uma vida psicológica mais saudável, é necessário que o trabalho a ser desenvolvido ultrapasse a esfera do individual e do particular, ao mesmo tempo, em que adquire uma perspectiva de apreensão da realidade – em sua totalidade e em sua concretude histórica – podendo então apreender a vida real e concreta das pessoas.” (p.76)

Comentário pessoal:  Com a repressão e a miséria das camadas mais desfavorecidas da população, principalmente no período da ditadura militar, a psicologia se uniu os referenciais teóricos de áreas da ciência como a sociologia, antropologia, pedagogia, história para fundamentar sua pratica nessa época. Os psicólogos nesse período trabalhavam de forma voluntária, clandestina. Empenharam-se também em deselitizar a psicologia, tida por muitos como uma ciência essencialmente burguesa. Os psicólogos envolvidos nessa causa começaram a ajudar as comunidades a fazer levantamentos das necessidades delas, oferecer alguma assistência, até apoio em protestos por melhores condições para as comunidades.


Palavras-chave:  Ditadura, População desfavorecida, Deselitização

 

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