quarta-feira, 27 de junho de 2012

simplesmente Buskowski...

A moda "cult" nas redes sociais por um tempo foi citar frases de Caio Fernando de Abreu. Não tenho nada contra ele, até gosto de algumas coisas que ele escreveu. Mas se fosse pra dar uma de intelectual no facebook, eu preferiria citar o grande Bukowski. Seus relatos e escrita "agressiva", chocante para os estômagos mais fracos. Um subversivo contemporâneo.





"O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece."

"há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica aí dentro,
não vou deixar
ninguém ver-te.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu despejo whisky para cima dele
e inalo fumo de cigarros
e as putas e os empregados de bar
e os funcionários da mercearia
nunca saberão
que ele se encontra
lá dentro.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica escondido,
queres arruinar-me?
queres foder-me o
meu trabalho?
queres arruinar
as minhas vendas de livros
na Europa?
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado esperto,
só o deixo sair à noite
por vezes
quando todos estão a dormir.
digo-lhe, eu sei que estás aí,
por isso
não estejas triste.
depois,
coloco-o de volta,
mas ele canta um pouco lá dentro,
não o deixei morrer de todo
e dormimos juntos
assim
com o nosso
pacto secreto
e é bom o suficiente
para fazer um homem chorar,
mas eu não choro,
e tu?"

"Mulheres: gostava das cores de suas roupas; do jeito delas andarem; da crueldade de certas caras. Vez por outra, via um rosto de beleza quase pura, total e completamente feminina. Elas levavam vantagem sobre a gente: planejavam melhor as coisas, eram mais organizadas. Enquanto os homens viam futebol, tomavam cerveja ou jogavam boliche, elas, as mulheres, pensavam na gente, concentradas, estudiosas, decididas: a nos aceitar, a nos descartar, a nos trocar, a nos matar ou simplesmente a nos abandonar. No fim das contas, pouco importava; seja lá o que decidissem, a gente acabava mesmo na solidão e na loucura."

"Nunca me senti só. Gosto de estar comigo mesmo. Sou a melhor forma de entretenimento que posso encontrar.”

"Me sinto bem em não participar de nada. Me alegra não estar apaixonado e não estar de bem com o mundo. Gosto de me sentir estranho a tudo..."

"Andava com mania de suicídio e com crises de depressão aguda; não suportava ajuntamentos perto de mim e, acima de tudo, não tolerava entrar em fila comprida pra esperar seja lá o que fosse. E é nisso que toda a sociedade está se transformando: em longas filas à espera de alguma coisa. Tentei me matar com gás e não consegui. Mas tinha outro problema. Levantar da cama. Sempre tive ódio disso. Vivia afirmando: "as duas maiores invenções da humanidade foram a cama e a bomba atômica; não saindo da primeira, a gente se salva, e, soltando a segunda, se acaba com tudo". Acharam que estava louco. Brincadeira de criança, é só disso que essa gente entende: brincadeira de criança - passam da placenta pro túmulo sem nem se abalar com este horror que é a vida.

Sim, eu odiava ter que me levantar da cama de manhã. Significava que a vida ia recomeçar e depois que se passa a noite inteira dormindo cria-se uma espécie de intimidade especial que fica muito mais dificíl de abrir mão. Sempre fui solitário. Você vai me desculpar, creio que não regulo bem da cabeça, mas a verdade é que, se não fosse por uma que outra trepadinha legal, não me faria a mínima diferença se todas as pessoas do mundo morressem. É, eu sei que isso não é uma atitude simpática. Mas ficaria todo refestelado aqui dentro do meu caracol. Afinal de contas, foram essas pessoas que me tornaram infeliz. "

domingo, 24 de junho de 2012

Duplo Vínculo (palavras do inconsciente...)


DUPLO VÍNCULO

Sentado nas escadas, debatendo sobre a vida
Você me contando suas novas mentiras
Feitas pra lhe estruturar
Puras fantasias de contos de fadas
Você fala muito, mas nunca me diz nada
O que você pensa nunca ousei perguntar
O que você é, é o que nunca ousou falar
Nos tornarmos o não-dito, um duplo vínculo
O que ficou selado, calado, enterrado
Recalcado, velado, o mal-dito
Que não está em nenhum livro
O que talvez alguma poesia um dia poderá citar
O que não quis escapar é o que mais faz parte de mim
O que resolveu ficar é o que me aprisiona aqui
Palavras são cuspidas uma a uma para fora da barreira
Mas elas sempre tentam voltar, assim como os sonhos
Um a um apagados da lembrança, cada detalhe da infância
De volta à escuridão, guardadas a flutuar
Certas coisas nunca devem se iluminar
Sua história sempre é a historia de alguém
Que esperneia, desespera, nunca se cala
Mas também nunca fala o que deveria dizer
A quem mais precisa ouvir... é você!

quinta-feira, 21 de junho de 2012

O Estruturalismo, A "morte do homem" e O "Anti-Existencialismo"


Esse texto é sobre uma das correntes filosóficas que por acaso descobri um dias desses lendo um livro de história da filosofia. Muitas de minhas idéais corroboram com a essência dessa linha de pensamento. Principalmente sobre a psicanálise lacaniana que eu não gostava muito, mas que estou lendo muito ultimamente. (Ps: Considero ser sempre bom ler algo que aparentemente não se gosta, porque ou você fortalece a idéia que realmente aquilo não lhe apraz e não ficar só num achismo superficialista ou mudar de idéia e quem sabe até concordar com as idéias apresentadas, ou até mesmo não gostando, poder retirar o que se achar de relevante no texto lido e assim conhecer algo novo e acrescentar um novo conhecimento, evoluir-se intelectualmente.)

O ESTRUTURALISMO

Trata-se precisamente dos usos elaborados por pensadores como Levi-Strauss, Althusser, Foucault e Lacan, que, voltando-se contra o existencialismo, o subjetivismo idealista, o humanismo personalista, o historicismo e o empirismo grosseiramente factualista (com todo o terror que ele tem pela "teoria"), deram origem a um movimento de pensamento, ou melhor, a uma atitude, precisamente a atitude estruturalista, apresentando soluções bem diferentes (das propostas pelas filosofias citadas) para urgentes problemas filosóficos relativos ao sujeito humano ou "eu" (com sua pretensa liberdade, sua pretensa responsabilidade e seu pretenso poder de fazer a historia) e ao desenvolvimento da historia humana (e seu pretenso sentido).

Em poucas palavras, os estruturalistas pretenderam inverter a direção em que andava o saber sobre o homem, decidindo destronar o sujeito (o eu, a consciência ou o espírito) e suas celebradas capacidades de liberdade, autodeterminação, autotranscendência e criatividade em favor de "estruturas" profundas e inconscientes, onipresentes e onideterminantes, isto é, de estruturas onívoras em relação ao "eu". E isso a fim de tornar cientificas as "ciências humanas".

Desenvolvendo-se na França a partir da década de 1950, o protesto estruturalista teve como alvo mais imediato o existencialismo, cujo humanismo (com o papel primário que ele atribui ao eu "condenado a ser livre" e criador de historia) é logo acusado, entre outras coisas, de n5o ser nada cientifico, antes, pelo contrario, de ser completamente refratário a toda uma serie de resultados científicos que proclamam inequivocamente a falsidade da imagem do homem construída pelo humanismo existencialista, transmitida e defendida por todo espiritualismo e por qualquer idealismo.

Desse modo, o estruturalismo configura-se como a filosofia que pretende erigir-se com base em nova consciência cientifica (lingüística, econômica, psicanalítica etc.) e que, por seu turno,
traz a consciência da redução da liberdade em um mundo sempre mais "administrado" e "organizado": ele é a consciência dos condicionamentos que o homem descobre e - digamos - dos obstáculos que talvez ele próprio criou para si e cria no caminho de sua iniciativa livre e criadora.

Para sintetizar, podemos dizer que, para o estruturalismo filosófico, a categoria ou idéia de fundo não é o ser, mas a relação; não é o sujeito, mas a estrutura. Os homens não tem significado e "não existem" fora das relações que os instituem, os constituem e especificam seu comportamento. Os homens, os sujeitos, são formas e não substâncias.

O humanismo (e "o existencialismo é um humanismo" - como dizia Sartre) exalta o homem, mas não o explica. O estruturalismo, ao contrario, pretende explicá-lo. Mas, explicando-o, o estruturalismo proclama que o homem está morto.

Retirado de: REALE, Giovanni; ANTISERI. Historia da filosofia, vol. 7 de Freud a atualidade.